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Quando contar que Papai Noel não existe?

Quando contar que Papai Noel não existe?

Papai Noel, fada do dente, coelhinho da Páscoa e muitos outros são os personagens (fantasiosos?) que povoam a nossa cultura e que fazem a alegria das crianças em todo o mundo. Nessa época do ano, especialmente na véspera de Natal, nada mais comum do que observar crianças esperando pelo bom velhinho trazer seus presentes caso tenham sido boas crianças. A grande questão que se impõe, portanto, é a de quando é a hora de contar que papai Noel não existe e como se deve fazer essa revelação. Inspirado no artigo “Is Telling Kids Santa Claus is Real a Bad Idea?” do Dr. Clifford N. Lazarus, resolvi escrever esse artigo para discutir essa questão.

A verdade é que cedo ou tarde seus filhos começarão a fazer perguntas sobre a existência ou não do Papai Noel. Nesse momento, podem surgir questões sobre “como ele entrega presentes no mundo inteiro em uma só noite?”, “como ele consegue adivinhar o que todas as crianças querem?”. Muitos pais ficam temerosos com essas questões, achando que seus filhos estão crescendo rápido demais, que isso é efeito da televisão/internet, ou que é melhor continuar avivando a fantasia das crianças do que contar a verdade. Do ponto de vista psicológico, essas questões das crianças são indicativas de um bom desenvolvimento cognitivo como você verá mais abaixo.

Acreditar em Papai Noel, por exemplo, faz parte do pensamento mágico, que se refere a acreditar em coisas sobrenaturais, superstições, leitura de mente, mágica, etc. O pensamento mágico é importante e faz parte do desenvolvimento normal, todos nós temos alguns pensamentos mágicos, mesmo já adultos. No entanto, o pensamento mágico como forma predominante de pensamento não é saudável e pode estar relacionado com transtornos psicológicos. Isso não quer dizer que acreditar em Papai Noel vai prejudicar a saúde mental de seu filho, mas quer dizer que com o passar dos anos as crianças precisam mudar a forma de acreditar em Papai Noel, isso é, entender que se trata de uma fantasia, mas que a mensagem trazida por essa fantasia é o que realmente importa.

A imaginação, as fantasias, jogos e brincadeiras predominam na vida das crianças, e são essenciais para seu desenvolvimento cognitivo. É a partir dessas fantasias e jogos que as crianças podem e vão se relacionando com a realidade e se apropriando dessa realidade. Nesse sentido, as crianças são expostas constantemente às evidências de que Papai Noel e outros personagens fantasiosos não existem; elas aprendem implicitamente que alguns fatos não podem ser verdadeiros, pois elementos da fantasia entram em contradição com a realidade.

Desse modo é que surgem perguntas sobre “como ele entrega presentes no mundo inteiro em uma só noite?”, pois elas aprendem que o mundo é muito grande e que existem muitas pessoas, o que “dificultaria” essa visita do Papai Noel a todas as crianças. As crianças se perguntam como o Papai Noel sabe o que todos querem de presente, pois elas aprendem que as pessoas não podem adivinhar os pensamentos das outras pessoas – o que nós, psicólogos, chamamos de “Teoria da Mente”. Em síntese, a Teoria da Mente é a capacidade que as crianças desenvolvem de compreender seus próprios estados mentais e os dos outros e, dessa maneira, predizerem suas ações ou comportamentos.

As crianças começam a desenvolver a Teoria da Mente por volta dos 2 aos 4 anos (existem controvérsias) e isso possibilita que elas entendam que os outros têm uma mente como elas, mas que essas mentes são diferentes (elas não estão ligadas, o que eu penso não é diretamente compartilhado com o outro e vice e versa). Em outro artigo discutirei melhor a Teoria da Mente; por hora basta o fato de que as crianças são mais inteligentes do que se possa pensar, e essas perguntas que elas fazem sobre a existência de papai Noel estão calcadas em suas desconfianças com base no que elas aprenderam da realidade. Isso significa que mentir que Papai Noel existe talvez não seja a melhor alternativa por muito tempo para responder às crianças.

Bom, então como e quando devemos contar as crianças “a verdade”? A resposta é que não há um consenso na ciência Psicológica. No entanto, a opinião de muitos é de que se deve alimentar sim a fantasia, a criatividade das crianças, mas que, quando elas começarem a buscar as respostas, é preciso devolver as perguntas a elas e ver o que elas já sabem sobre esse assunto. Conte aos poucos a verdade de acordo com o que seu filho ou sua filha já souberem. Não precisa contar tudo de uma vez, mas pode contar aos poucos que embora Papai Noel não exista é a ideia de ajudar as outras pessoas, da solidariedade, do amor ao próximo, da alegria que fazem parte do Natal que são importantes.

Se você acha que isso pode ser cruel com seu filho (acabar com a infância), pense novamente, pois muito provavelmente seu filho já sabe a verdade e às vezes ele também só está querendo testar se pode confiar em você. Pense: por que você mesmo diz que bicho papão, “monstro de baixo da cama” e “velho do saco” não existem, mas o Papai Noel e o coelhinho da Páscoa existem? Qual a diferença entre esses seres fantasiosos? A minha sugestão é você conte sempre o necessário, somente o necessário.

Nada impede que uma criança acredite até uns 6 ou 8 anos em Papai Noel. Não precisa contar “toda a verdade imediatamente”, mas, se seu filho não quer mais acreditar em Papai Noel, então responda suas dúvidas, seja sincero. Não querer mais acreditar em Papai Noel não é tão ruim assim, significa que seu filho está se desenvolvendo, crescendo. O importante não é só a fantasia, mas também o espírito de Natal, os sentimentos e intenções de ajudar ao próximo que seu filho deve manter. E, é claro, como o pensamento mágico faz parte de nossa constituição, nós sempre podemos acreditar lá no fundo que Papai Noel existe.

O que você achou desse artigo? Você já contou “a verdade” para seus filhos, que tipo de perguntas eles fizeram? Comente abaixo.

Feliz Natal a todos!

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