Criar blogs e vídeos de Psicologia é legal, só que não!

Atualmente todo mundo parece querer expressar sua opinião no mundo virtual. No entanto, será que essas opiniões têm fundamentos? De boas intenções o inferno está cheio e mesmo na tentativa de ajudar o outro (ou se ajudar – com mais clientes ou fama) quando falamos sem conhecimento da causa, podemos atrapalhar mais do que realmente ajudar.

Quando falamos as palavras somem tão logo são faladas e afetam basicamente nosso círculo imediato de ouvintes. No entanto, quando escrevemos damos imortalidade as ideias sejam elas boas ou ruins. As palavras escritas ficam concretizadas e ganham um poder de informação para quem quer que seja inclusive pessoas que irão assimilar como verdades o que não passa de informações imprecisas ou opiniões sem fundamentos.

O perigo é ainda maior para aqueles que falam em nome da Psicologia. Recorrentemente tenho observado um enorme número de pessoas criando sites, blogs e canais no youtube sem qualquer critério, disseminando informações imprecisas sobre Psicologia. Ok, dica de marketing “Galinha que não cacareja, não bota ovo”, porém galinha que canta sem botar ou bota ovos estragados vira canja ou faz com que quem se alimente dos ovos passe mal.

“Ah, mas você também criou um blog!”, criar eu criei, mas não foi ontem e nem me arrisco a falar de coisas imprecisas das quais não tenho conhecimento. Além disso, tenho vários colegas que escrevem também nesse blog e com formação avançada em suas áreas. Nossos textos são avaliados por parceiros (outros psicólogos) e sempre buscam oferecer algo que contribua e esteja coerente com a Psicologia, obviamente nem tudo é perfeito, mas é preciso tentar ser perfeito.

É preciso ter a capacidade de discernir entre o que é o Psicologia e o que é opinião própria, crenças pessoais etc. Todo mundo é livre para falar o que quer seja, porém, quando se fala como psicólogo ou como estudante de psicologia, a coisa muda.

Se eu falo em nome da Psicologia, falo baseado não mais em minha opinião, mas sim no conjunto de evidências e teorias que são partilhadas por uma comunidade de cientistas psicológicos e psicólogos.

Assim, não é problema algum acreditar em vidas passadas, uso de drogas, ser religiosos fervoroso ou acreditar em duendes. O problema é dizer que a Psicologia recomenda algo assim.

Quando usamos o título de psicólogo ou mesmo de estudante de Psicologia, as pessoas acreditam que estamos falando em nome dessa Psicologia e isso têm um poder. “Com grandes poderes vem também grandes responsabilidades!” Qual é a responsabilidade dessas pessoas que tem falado em nome da Psicologia?

O que quero dizer aqui é para tomarmos cuidado e prestar atenção no que é verdadeiramente informação e no que é uma forma de banalizar a Psicologia e de fazer com que ganhemos 50 likes no Facebook. Ter mais clientes não depende apenas de você ter um bom número de likes no Facebook ou um site incrivelmente lindo.

Aliás, pouco importa se você tem tudo isso e não consegue atender adequadamente os seus clientes, se você não tem formação suficiente para saber que não se mistura teorias e técnicas “ao gosto do freguês” e não é ético em seu trabalho. Aliás, ser ético implica também em oferecer ao cliente apenas aquilo que se pode fazer, que está de acordo com as leis e que possuímos conhecimentos.

É fantástico que existam cada vez mais pessoas interessadas pela Psicologia e que existam mais psicólogos e estudantes interessados em compartilhar conhecimentos, porém vamos tomar cuidado e compartilhar apenas aquilo que realmente seja útil e no que tenhamos base para falar.

Recentemente divulgou-se uma pesquisa que fala como no Brasil produzimos mais lixo acadêmico do que evidências científicas relevantes (leia aqui). E o porquê produzimos mais lixo? Porque nós achamos que devemos apenas ficar produzindo vários artigos recapitulando o mesmo tema, dizendo as mesmas coisas e sem base em evidências apropriadas. O mesmo tem ocorrido na internet com a proliferação de blogs, vídeos e sites de Psicologia.

Quer ajudar? Estude, pense, e escreva adequadamente. Muito ajuda quem não atrapalha.

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